segunda-feira, 23 de maio de 2011

Diante do mar

Um homem parado numa praia deserta contempla a imensidão do mar diante dos seus olhos. Era um dia nublado e estava prestes a escurecer. Ele fixava seu olhar diante daquele gigante, preocupado com o fato de que, em pouco tempo, não o veria mais como naquele momento. Porque a luz do dia seria dissipada pelas trevas da noite que chegava e apenas as margens do mar, próximas às alvas areias da praia, estariam ao alcance de sua visão. Seria ainda mais difícil encará-lo de frente!

Ele se sentia perplexo e impotente em face àquela infinidade de águas rugindo em direção à ele, através das ondas que se formavam e cresciam uma após a outra. Estava prestes, mais uma vez, a correr para longe daquele lugar. Queria ter coragem para lançar-se sobre o mar e nadar contra a direção que as ondas indicavam, mas o medo que lhe acompanhou durante toda sua vida acorrentava seus pés naquelas areias.

Tantas vezes esteve naquela praia! Sozinho, absorto em pensamentos melancólicos e desencorajadores. Muitas foram as tardes em que passou diante daquelas águas, buscando forças em si mesmo para superar o medo do temível e truculento oceano, cujo fim não podia ser visto pelos seus olhos.

Mas, esse momento era pior do que todos os outros, porque nenhuma daquelas tardes em que esteve ali haviam se tornado uma noite, nem chegado perto disto. Ele sempre corria bem antes de escurecer, antes que as coisas ficassem pior do que já se encontravam.

Enquanto a sombra da noite chegava, levava embora o pouco, ou quase nada, da luz de esperança de vencer que lhe restava. Ele sentia que nunca mais voltaria àquela praia, não queria mais se encontrar com a derrota.

Já era noite, ele não sabia o que fazer, não tinha mais forças nem para correr dali. De repente, ao olhar despretenciosamente para o horizonte, pois imaginava que não enxergaria mais a linha que instantes atrás era tão evidente, viu um farol aceso que iluminava as águas que haviam se tornado negras. Aquela luz lhe causou uma reação inesperada e irracional. O medo do mar ainda estava presente dentro dele, na verdade até aumentou com a chegada da noite, mas ele foi tomado por uma vontade impetuosa e involuntária de alcançar a luz daquele farol. Durante todas as vezes em que estivera ali, não havia percebido a existência dele, porque não conseguia enxergar mais nada além do que o mar, para ele furioso e ameaçador. Mas o farol sempre esteve ali.

Agora, crescia dentro dele um sentimento irresistível que o atraía para aquele farol, tão ofuscante no meio daquelas trevas que ilumava tudo ao seu redor e desenhava no mar como que um caminho de luz em direção ao local onde se encontrava, na areia. Sua covardia permanecia viva, mas era impossível olhar para aquela luz e não querer tocá-la. Atirou-se correndo ao mar, em direção ao farol, sem saber como ou se o alcançaria. Mas, nada mais importava. Nem o seu medo, nem o tamanho do mar, nem as ondas, nem a escuridão, nada mais, só a luz.

Por Fabrício Guimarães.

Um comentário:

  1. Uau , você arrasou neste texto amado ! Que Deus continue te iluminando , a ponto de apenas o farol importar e apenas isso . Gostei muito , parabéns , Diane !

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